02 de fevereiro: Dia de Yemanjá
“Yemanjá, mãe de todos os Orixás e de nós todos, no verde-verde de suas águas profundas, ouve o apelo e vem à Bahia; pode estar em Santiago de Cuba ou no Haiti, no golfo do Benin ou em São Luis do Maranhão, mas ela não deixará de vir receber as flores, os espelhos e perfumes que seus filhos depositam em suas fundas águas verde-verdes”_Carybé.
Yemanjá (Mãe cujos filhos são peixes), também conhecida como mãe das cabeças (ori) devido ao seu domínio pela saúde mental e psicológica, é a divindade responsável pelas águas salgadas e pela maternidade. Além disso, costumo considerar que a Rainha do Mar também é a Grande Mãe da cidade de Salvador, local que há muitos anos (ainda não se sabe ao certo em que ano se iniciou a prática), no dia 2 de fevereiro, recebe de seus fiéis flores, perfumes, rezas e visitas na beira do mar das suas águas que banham a Praia da Paciência, no Rio Vermelho.
“O povo místico da Bahia”, como dizia Carybé, começa bem cedo as suas saudações a uma das yiabás (orixás do sexo feminino) mais conhecidas no Brasil, acompanhadas pela alvorada de fogos que dá início à festa em sua homenagem. “Odoyá!”, saúdam todos enquanto os fogos acordam a cidade. E é a partir daí que dão início aos toques nos atabaques, nas palmas, aos cantos, as rezas, ao lançamento das flores e presentes ao mar, aos olhos marejados, aos transes, as rodas de capoeira, aos pedidos, a grande festa que carrega consigo adeptos de religiões de matriz africana e até mesmo pessoas que nem fazem parte do Candomblé ou da Umbanda, tornando assim a entidade uma soberana acima de qualquer crença, como diz o pesquisador-sacerdote Armando Vallado.
Até o sol de pôr, quem participa da festa, além de prestar suas homenagens à Janaína (uma das formas que também chamam a divindade), segue também os festejos profanos nos quais blocos realizam um cortejo pelo bairro do Rio Vermelho com muita música e dança. Mas é quando o sol resolve abraçar o mar, no final da tarde, que a festa chega ao seu ápice: é chegada a hora em que os pescadores da colônia que iniciou a prática na praia há muitos anos atrás levam o grande presente para a sereia – mais uma forma como a caracterizam – através dos seus barcos para o meio da Baía de Todos os Santos. Enquanto a imagem de Yemanjá é levada em cortejo até um dos barcos acompanhadas pelos grandes balaios dos presentes, que são depositados na Casa de Yemanjá / Colônia dos Pescadores do Rio Vermelho, é que Ela parece chegar para agradecer pela sua festa. É nessa hora em que lágrimas que vem de dentro caem, em que os fogos voltam a estourar no céu e que quem acredita no poder da Grande Mãe, em alto e bom som, mais uma vez fazem suas saudações de esperança nas realizações de seus pedidos e de agradecimento por mais um ano de proteção. E, enquanto os barcos seguem ao encontro da Rainha, nos corações ficam a saudade e a ansiedade para que chegue logo o próximo 2 de fevereiro.
A festa é um grande marco na minha vida. Primeiro por ter sido um ponto forte para a minha entrada para o Candomblé, que foi paralela ao início da minha pesquisa sobre a Deusa e suas festas populares. Além disso, sentir a energia que o local exala enquanto a festa acontece, é algo que mexe com todos os sentidos. Para conseguir entender um pouco do que é que move a cidade, acredito que é preciso passar pela festa de Yemanjá pelo menos uma vez na vida.
(Fotos por Amanda Oliveira, Brasis.)
Prato Feito é uma editoria que cartografa e compartilha experiências em culturas brasileiras. Em 2016, o Mutirão do Brasis se dedica a registrar expressões imateriais do país por meio de nossas festividades. Nessa medida, Prato Feito neste ano é um convite para juntos sentirmos e celebrarmos (em dança, comida, rituais, músicas) o que há de belo em nós. Envie histórias sobre suas experiências para [email protected] e marque #osBrasis em seus registros fotográficos.
_OndeBA, Salvador
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
_Data de início: 02/02/2016
_Data de encerramento: 02/02/2016
_Observações: Praia da Paciência, Rio Vermelho, Salvador. Gratuito.